domingo, 4 de março de 2007









"Fogo na terra e no mar"

A nova ameaça!

Cientistas divulgam relatório assustador

Zurique - Nenhuma prorrogação, nenhuma esperança: se não forem tomadas medidas imediatas para a proteção do planeta, a situação será irreversível até 2100, adverte o Painel Intergovernamental da Organização das Nações Unidas (ONU), o IPCC.

Está é a conclusão dos estudos de 2.500 cientistas, estudos que duraram cinco anos e são a análise mais global e completa do problema apresentada nos últimos anos.

Entre 1901 e 2005, a temperatura média mundial aumentou 0,7 ºC, enquanto os dois anos mais quentes desde o início dos registros, em 1850, foram 1998 e 2005. O ano passado foi o ano mais quente dos EUA.

A aumento da temperatura provocará sérios problemas para as culturas agrícolas, assim como mais inundações, erosões, desertificações e ondas de calor, o que levará ao desaparecimento vários tipos de animais.

No Século XX, o nível do mar aumentou 17 cms. Até 2100, este nível aumentará de 24 até 43 cms, e entre 2100 e 2200 aumentará de 30 até 80 cms. O nível do mar continuará subindo durante mais um milênio, mesmo se os governos dos países do mundo conseguirem limitar a elevação da temperatura agora.

A concentração dos gases que causam o "efeito estufa" aumentou 1/3 desde a Revolução Industrial, enquanto avaliações mostram que é a maior dos últimos 650 mil anos.

Em seu relatório anterior, de 2001, os cientistas do IPCC formularam a avaliação de que é simplesmente "provável", na proporção de 66% à 90%, que as atividades humanas continuem causando o superaquecimento do planeta. No relatório deste ano, os percentuais crescem e se aproximam da certeza absoluta.

Os cientistas já declaram que é "muito provável", de 90% até 99%, que o superaquecimento dos últimos 50 anos tenha sido consequência da ação do homem. A tentativa de interligação da atividade humana com as mudanças climáticas não é casual. Visa convencer os que duvidam, entre eles Bush, de que a tomada de medidas poderá reverter a situação e limitar os riscos decorrentes.

Seja lá como for, os cientistas, em seu esforço para convencer a Casa Branca a subscrever o Protocolo de Kyoto, já falam a linguagem do... Pentágono.

Steven Hokinns destacou que a maior ameaça terrorista são as mudanças climáticas. "A fumaça está diante de nós", declarou o cientista norte-americano Jerry Malman, parafraseando a famosa declaração do ex-secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, ao Conselho de Segurança da ONU sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque.

"Não é simples fumaça, o clima hoje recomenda ataque de mísseis intergaláticos", declara um dos cientistas do IPCC.

As conclusões do relatório do IPCC, comissão constituída em 1988 para assumir o papel de conselheiro da ONU em temas do meio ambiente, devem constituir o eixo central no esforço do organismo internacional para prorrogar a vigência do Protocolo de Kyoto além de 2012.

O Protocolo, aprovado em 1997, obriga 35 países industrializados a limitarem a emissão de gases poluentes na atmosfera em 5% a menos que o nível de 1990, até 2012.

Os EUA não subscreveram o Protocolo de Kyoto alegando três argumentos: primeiro, que não existem indícios claros de que o superaquecimento se deve à atividade humana. Segundo, que a tomada de medidas retardará consideravelmente o crescimento da economia norte-americana, e terceiro, que do esforço de Kyoto não participam países em desenvolvimento como Índia, China e Brasil.

Três fatores podem contribuir para a mudança de orientação do governo Bush: primeiro, as conclusões da IPCC comprovam a indiscutível responsabilidade do homem; segundo, as pressões dos democratas e da presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, que constituiu a primeira comissão especial sobre o superaquecimento do planeta; e terceiro, a iniciativa do estado norte-americano da Califórnia, de constituir a primeira Bolsa de Poluentes nos EUA, levando o país à uma - de fato - participação ao Protocolo de Kyoto.

Até 2100, a temperatura média do planeta aumentará de 2 até 4,5º C, sendo mais provável o nível de 3º C. Se o aumento da temperatura é de apenas 5 ºC desde a última Época das Geleiras, é óbvio que o superaquecimento provocará múltiplos problemas.

Equilíbrio abalado

A União Européia tem advertido que o aumento da temperatura acima de 2 ºC provocará "mudanças perigosas", como as ondas de calor, responsáveis pela morte de 35 mil europeus em 2003.

Anote-se que quando a temperatura média do planeta era aumentada em 3 ºC, há 125 mil anos, o nível do mar era mais alto. Provavelmente entre quatro e seis metros. O que acontecerá se a temperatura aumentar em:

5 ºC: o equilíbrio no ecossistema marítimo será consideravelmente abalado. As geleiras do Himalaia desaparecerão e 1/3 dos chineses será atingido pela falta de água. Pequenas ilhas e cidades como Nova Iorque, Tóquio e Lisboa serão ameaçadas pela elevação do nível do mar.

4 ºC: metade da vegetação ártica desaparecerá e não haverá condições de garantia de proteção às espécies que ali vivem. Mais de 300 milhões de seres humanos que hoje vivem em zonas litorâneas provavelmente se tornarão imigrantes.

3 ºC: mais de 150 milhões de seres humanos serão vítimas de inundações por ano, enquanto de 150 a 550 milhões serão atingidos pela fome. Por outro lado, as regiões nos grandes paralelos se tornarão mais produtivas do que nunca.

2 ºC: na região do Mar Mediterrâneo, o volume de água potável disponível se reduzirá de 20% a 40%, enquanto entre 40 e 50 milhões de seres humanos contrairão malária na África. O derretimento das geleiras será irreversível.

1 ºC: 80% da zonas de coral serão ameaçadas de desaparecimento, enquanto 50 milhões de seres humanos ficarão sem água potável e 300 mil morrerão de malária e outras doenças na zona tropical. As regiões situadas em paralelos mais altos serão beneficiadas, pois a colheita aumentará por causa da elevação de temperatura.

Laura Britt -Monitor Mercantil

Sucursal da União Européia.

Fonte: www.monitormercantil.com.br

Desenho: Calentamento Global de Osmani Simanca